agosto 12, 2006

antónio aleixo








as quadras
simples, directo e muito compreensível ...


Sei que pareço um ladrão

mas há muitos que eu conheço

que sem parecer o que são

são aquilo que eu pareço.


Eu não tenho vistas largas,
Nem grande sabedoria,
Mas dão-me as horas amargas
Lições de Filosofia.

Nas quadras que a gente vê,
quase sempre o mais bonito
está guardado pr'a quem lê
o que lá não está escrito.

A arte em nós se revela
Sempre de forma diferente:
Cai no papel ou na tela
Conforme o artista sente.

Muito contra o meu desejo,
sem lhe qu'rer dizer porquê,
finjo sempre que não vejo
quem finge que me não vê ...

O mundo só pode ser
melhor do que até aqui,
quando consigas fazer
mais p'los outros que por tí !

Veste bem, já reparaste?
mas ele próprio ignora
que, por dentro, é um contraste
com o que mostra por fora

Diz que viver é sofrer ...
concordo. Mas não compreendo
que ninguem ouse dizer
que se aprende sofrendo.

Eu não sei porque razão
certos homens, a meu ver,
quanto mais pequenos são
maiores querem parecer.

Quem me vê dirá: não presta,
nem mesmo quando lhe fale
porque ninguem traz na testa
o selo de quanto vale.

Peço às altas competências
perdão, porque mal sei ler,
p'ra aquelas deficiências
que os meus versos possam ter.

Sou humilde, sou modesto;
mas, entre gente ilustrada,
talvez me digam que eu presto,
porque não presto pr'a nada.

Uma mosca sem valor
poisa, c'o a mesma alegria,
na careca de um doutor
como em qualquer porcaria.

P'ra mentira ser segura
e atingir profundidade,
tem que trazer à mistura
qualquer coisa de verdade.

Há pessoas muito altas
do nome ilustrado e sério,
porque o oiro tapa as faltas
da moral e do critério.

Vós que lá do vosso império
prometeis um mundo novo,
calai-vos que pode o povo
qu'rer um mundo novo a sério.

Que importa perder a vida
em luta contra a traição,
se a Razão mesmo vencida,
não deixa de ser Razão?

Quantas sedas aí vão,
quantos colarinhos brancos,
são pedacinhos de pão
roubados aos pobrezinhos!

A ninguem faltava o pão,
se este dever se cumprisse :
u2013 ganharmos em relação
com o que se produzisse.

Não sou esperto nem bruto,
nem bem nem mal educado :
sou simplesmente o produto
do meio em que fui criado.

Há luta por mil doutrinas.
Se querem que o mundo ande,
Façam das mil pequeninas
Uma só doutrina grande.

Quando os Homens se convençam
Que à força nada se faz,
Serão felizes os que pensam
Num mundo de amor e paz.

Quem prende a água que corre
É por si próprio enganado;
O ribeirinho não morre,
Vai correr por outro lado.

Embora os meus olhos sejam
Os mais pequenos do mundo,
O que importa é que eles vejam
O que os Homens são no fundo.

Julgando um dever cumprir,
Sem descer no meu critério,
Digo verdades a rir
Aos que me mentem a sério !